Chegou o momento.
Ligo o estabilizador, a CPU, o monitor.
Aguardo alguns segundos, e a janela se abre, brilhante, o fundo com minha foto escolhida, temporária.
Clico nos atalhos, que levam diretamente para os mesmos lugares conhecidos, públicos, mas para mim, como
um vidro blindado a me proteger dos males e chatices do mundo.
Basta um clique e oculto minha presença.
Fico ali, minha janela e eu, de onde vislumbro aquilo que quero.
Digito rapidamente respostas no MSN.
Domino totalmente o diálogo digital.
Ligo a Webcam para alguns, tornando mais próxima nossa conversa.
Em paralelo, posto novidades no meu blog, dou uma olhada nos que sigo, respondo scraps no Orkut, olho atualizações
de meus amigos, fico twitando alguns minutos e acompanho meus vídeos favoritos no youtube.
Horas passam.
Da janela ao meu lado, que dá para o jardim, vejo que anoiteceu.
Lembro que queria ter passeado com meu cachorro, admirado a primeira rosa branca desabrochada, mas foi um
pensamento muito rápido.
Ainda tenho que ler e-mail’s. Deletar muitos, responder alguns.
Meu irmão quer usar o PC.
Pra mim ainda não é hora de me desconectar.
É um mundo de dimensões, onde qualquer pessoa pode tornar seus pensamentos, suas fotos, seus talentos e tudo que
quiser, parcialmente ou completamente públicos.
O que continua privado para sempre, é o EU, que só a gente conhece e sente, aprisionado, calado.
Fecho todas as janelas abertas, deixando a tela somente com meus atalhos e foto.
Meu irmão entra no seu usuário, vão aparecendo seus atalhos e seu fundo, escolhido, temporário.
Deixa-se sugar pelo seu mundo digital.
Carrega o jogo da hora, onde já está no level 40, ele é muito bom nisso.
Já tem vários poderes, inclusive o de voar.
Por algumas horas, ele é o personagem, voando, matando monstros e cumprindo missões.
Outras vezes, armado, matando inimigos escondidos.
Por sorte da humanidade, mentes criaram tudo isso, para nos salvar do tédio da vida real.
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